Visão de Morte
I
Visão de morte que me invade de repente,
e não e rosa, nem azul, nem cor de morte.
A Morte apenas, tão sutil e transparente
como uma nuvem verdejada pela sorte.
Esta visão, transcendental e aparente
que nada soma, nada tira, e nada inventa;
esta visão que nos encontra na velhice,
mas que ja estava enraivada na placenta.
Esta visão que todos tem, e poucos querem,
que se reveste de pavores escondidos,
mas que a todos nos atinge algum dia;
esta visão que tive agora, nesta noite
e de maneira alguma me deixou ferido;
pelo contrario, transformei-a em poesia
II
Visão de morte, tão sutil e submissa …
imaginava que a visão fosse mais dura.
E ao contrario, foi tão leve, tão tranquila,
que a luz da noite se tornou menos escura.
E no entanto continuam meus pavores
do que vira, por ser castigo, e ser eterno;
a Voz que grita, entre sinos e tambores
“Aos justos, céu; Ao pecador, Inferno!”
O som torcido do chicote flagelando,
o fogo aceso, o gritar de almas penando,
o ferro em brasa, a total desesperança,
as penas rudes que nem Dante imaginava.
E a voz tão doce que os tormentos desfiava,
da baba triste que eu tive em criança.
Londres, 20.9.1977